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by PORTO ALEGRE CIA DE DANÇA

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NOSSO TEMPLO PARTICULAR

Quando pensamos em nossa estrutura básica, o esqueleto, podemos dizer que somos todos iguais. E nossos corpos também são muito similares, salvo algumas diferenças entre nascer um homem ou uma mulher, todos temos praticamente os mesmos órgãos internos, as mesmas necessidades funcionais e obedecemos a um ritmo de crescimento, renovação celular e envelhecimento, muito parecido. Mas sabemos que cada corpo em alguma medida é único, porque cada um tem sua própria história e carga genética. E o fato é que, embora ele não seja tudo o que somos, é o mais concreto que percebemos e nosso veículo para estar e transitar neste mundo.

A forma como o reconhecemos e nos relacionamos com ele está conectada com sentimentos de auto estima, de amor próprio e porque não, respeito. Acho que perceber o corpo como um templo, nosso templo particular, nada mais é que honrar nossa existência humana. É fácil sentir um estado de reverência com o entendimento do quão maravilhoso e engenhoso nosso corpo é. Este sentimento nos permite valorizar a importância de tratá-lo bem e cultivar a intimidade considerando suas necessidades, limites e possibilidades.

Percebo, cada vez com mais clareza, que  um caminho de  auto conhecimento pode passar também por explorar e tornar-se consciente de como o corpo funciona, como se relaciona com o mundo e age nele. Sinto que auto conectar-se com  o corpo abre  uma porta, um acesso que irremediavelmente nos leva do objetivo para o subjetivo, da forma para o conteúdo, do terreno para o etéreo.

É um caminho cheio de descobertas e surpresas, sejam estas consideradas boas ou más. Por um lado, é fantástico intuir a inteligência do corpo e se sentir grato por tamanho presente da Existência. Mas, por outro lado,  não é fácil aceitar não ter total domínio sobre ele, compreendendo que tem suas vontades, seu próprio tempo de entendimento e suas fragilidades.

Mas entender  que o corpo não é uma máquina que usamos,  controlamos e moldamos, mas sim um sistema inteligentemente vivo que funciona lindamente quando está equilibrado, relaxado e em harmonia, motiva toda uma nova relação consigo e com o outro. Nem falo em funcionar bem ou mal, mas sim funcionar naturalmente,  nos ajudando a desempenhar o papel que cada um de nós tem a cumprir neste mundo e que está além de nosso alcance definir totalmente.

No entanto, meu corpo não é algo externo a mim. Porque falar dele como se fosse uma outra entidade?

Intuitivamente sabemos que somos mais do que um corpo, mas, quando em nossa vida cotidiana não estamos conectados com ele e o deixamos funcionando em um modo “automático”, não estamos presentes. E isso é quase como transformá-lo em algo utilitário.  A presença que é algo natural ou que acontece naturalmente quando estamos ancorados no momento, inclui todas as dimensões de nosso ser, inclusive o físico. Daí a importância de colocar  total atenção não somente naquilo que fazemos, mas também em como estamos fazendo aquilo que fazemos. Enfim, chamo isso de sentir o próprio corpo, algo que cada indivíduo tem a responsabilidade e total autoridade para fazer. Ninguém poderia conhecer melhor nosso corpo que nós mesmos.

Ele é realmente um grande parceiro, não pede muito,  uma boa dose de atenção, de cuidado, de carinho  e  responde  mais relaxado, mais saudável, mais íntegro. Minha experiência é que quando o corpo experimenta este “gostinho” da liberdade que surge através da consciência, entra em sintonia, se sente forte e seguro e começa a auxiliar nosso Ser a florescer em plenitude.

Tânia Baumann

∗ Bailarina e diretora da Porto Alegre Cia de Dança.
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