A linda música no ar, vinda de um local desconhecido, entrou pela janela aberta do meu apartamento. Estava totalmente entediada, deitada no sofá da sala,  olhando notícias repetitivas  no celular. O som foi me seduzindo, suavizando a penumbra, fechando meus olhos. Soltei no chão o aparelho no silencioso, para que não corresse o risco de tocar no meio deste devaneio. Ainda com os olhos fechados, levantei e comecei a dançar sozinha na sala. Aos poucos fui ganhando empolgação, rodopiando, como um dervixe alucinado, partindo para outra dimensão. Devo ter ficado uns 5 minutos totalmente abduzida pela música, que sacudiu todo o meu corpo, em uma harmonia até então desconhecida por mim. A mão acompanhava o violino, a cabeça rodava no piano, a perna enroscou-se na flauta. Meu corpo era somente uma dança mágica, perfeita. A música acabou e a próxima já não era tão boa. Voltei a me jogar no sofá, achando que o mundo é lindo e envolvente. A breve dança encantou minha tarde e o meu espírito.