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by PORTO ALEGRE CIA DE DANÇA

DEIXE ELE ENCONTRAR A SOLUÇÃO

Falando de trabalho corporal, quem já não ouviu aquela máxima: se não há dor, não há ganho. Um velho conceito que nos ensinaram, de que temos que lutar, superar obstáculos, trabalhar duro para conquistar nossos objetivos. Este pensamento, aplicado ao físico,  forja a  ideia de que suor, cansaço e esforço são sinônimos de bom desempenho físico, como se o corpo fosse um animal selvagem e rebelde a ser domesticado ou um troféu a ser conquistado.

Mas, será esta visão realmente necessária para o bem estar de nosso corpo?

A maneira como nos movemos é aprendida, o ser humano não nasce com nenhum programa pronto no corpo. Durante meses, em um processo muito natural de descobertas e tentativas, vamos encontrando meios de  levantar a cabeça, agarrar coisas, rolar, engatinhar e finalmente andar e usar objetos. É um aprendizado muito intenso, principalmente nos primeiros anos de vida e que ilustra uma das formas mais simples que temos de aprender, o “experienciar” com o corpo.

Hoje, ao contrário do que se acreditava poucos anos atrás, se sabe que a capacidade de aprender de nosso cérebro nos acompanha durante toda nossa vida. Ele se reorganiza, produz novas conexões, cria novos caminhos e  aprende muito facilmente o que pode nos fazer bem, durante toda sua existência.

É certo que a medida que vamos nos desenvolvendo, movimentos, hábitos e posturas são aprendidos, profundamente influenciados pelo contexto em que vivemos, socialmente. Sabemos que o corpo e seus movimentos expressam nosso estado de espírito, existindo uma relação direta entre eles. Vamos nos tornando adultos e por diversas razões, vamos adquirindo diferentes hábitos, rotinas cristalizadas que muitas vezes nem sabemos como começaram ou sequer nos damos conta delas. Nossa postura seria um bom exemplo disto.

E tudo vai aparentemente bem, não sentimos necessidade de mudar nada, até que um mecanismo em nosso corpo dispara, nos avisando que algo não está funcionando como deveria. Este mecanismo é a dor.

Todos almejamos uma vida prazerosa, equilibrada, fácil e nosso corpo está em sintonia com este desejo. Mas o que  fazer quando nos deparamos com a dor?

Creio que primeiro, temos que considerar que o desconforto não é o inimigo que devemos combater, é somente a forma de nosso corpo nos chamar a atenção para algo. O mais inteligente a fazer é buscar a causa, reconhecer o que produz a dor ou a limitação.

Penso que inicialmente é necessário olhar com atenção para a dificuldade, localizar o problema, fazer amizade com ele, conhecer ele intimamente, vivê-lo. Em vez de focar em suprimir a dor ou corrigir o corpo, é imperativo abrir-se para uma escuta que torne possível desvendar o caminho que o corpo está usando para produzir o desconforto. Adquirir maior consciência significa entregar-se  a um processo de descoberta que irremediavelmente  o levará a uma forma mais livre e eficaz de mover-se e sim, existe aí um caminho a ser percorrido.

Voltando ao ponto sobre exercitar o corpo, poderíamos considerar qualquer movimento como um exercício, se pensarmos em trazer consciência para o que estamos fazendo. Talvez ponderar que o mais importante não seja o que estamos fazendo, mas como estamos fazendo.

Falando em mobilidade, para fazer o que você quer é fundamental saber o que você está fazendo. Para saber o que  você está fazendo, você necessita usar sua atenção e trazer consciência para sentir a si mesmo. Uma maneira fácil e muito natural de aprender algo sentindo a si mesmo é fazer distinções sensoriais motoras. Se você mostrar ao seu corpo uma nova opção mais fácil e efetiva para fazer um movimento,  ele rapidamente aprenderá e gradativamente passará a escolher e usar esta nova forma.

Não é fácil abandonar velhos hábitos que já não nos ajudam, mesmo que nos causem dor, isto exige um olhar curioso e amoroso para você mesmo e uma boa dose de paciência. Então, não se trata de apagar ou corrigir o que sabemos ou de forçar racionalmente o que pensamos ser certo, mas sim de aprender um jeito novo.

A partir de uma nova experiência, praticando exercícios prazerosos, gentilmente, sem imposição e sem esforço extra, é possível criar novas alternativas. O corpo, em sua imensa inteligência, intuitivamente, sabiamente, escolherá a melhor opção. E esta será sempre o melhor para você!

Tânia Baumann

∗ Bailarina e diretora da Porto Alegre Cia de Dança.
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