TERPSÍCORE, A MUSA DA DANÇA
Depois de meu retorno de Cuba, andava um pouco perdida procurando por algo que não sabia definir precisamente. Já não queria dançar ballet clássico, mas queria seguir dançando, só não sabia exatamente como.
Foi neste momento, buscando possibilidades, que comecei a fazer aulas com Eneida Dreher. Não lembro exatamente como se chamavam tais aulas, mas não eram classes de ballet e como eu estava justamente procurando por outros estilos que pudessem ser interessantes para mim, este encontro foi fantástico. Tudo era novo e Eneida com sua energia, contagiava e estimulava. Meu corpo havendo estado tantos anos fiel ao ballet, respondia muito pouco, tudo era um desafio. Mas ela era incansável e eu gostava daquela forma direta e objetiva de suas aulas.
Em uma ocasião, recebi dela o convite para participar da companhia Terpsí Teatro de Dança. Eu já havia algum tempo antes assistido a um espetáculo chamado “Quem é?” no Theatro São Pedro e havia gostado muito. Foi a melhor experiência que tive como espectadora de dança produzida em Porto Alegre: algo criativo, inteligente, novo, instigante e com grande produção. Aceitei o convite com alegria e ali começou uma parceira que durou muitos anos.
Minha primeira participação foi na obra “Lautrec… fin de siècle”. Posso dizer que entrar para o elenco de uma obra já dançada não é das coisas mais fáceis, ainda mais quando se tem pouca técnica, atitude e experiência com dança moderna. Mais ainda tratando-se de algo tão específico como a linguagem desenvolvida pela coreógrafa Carlota Albuquerque que exige muita presença e transparência dos atuadores. Lembro que ela me perguntou uma vez, após uma apresentação, porque eu não havia juntado algum adereço (creio que um chapéu) que havia deixado cair em cena. Eu não consegui responder, mas me dei conta que a atitude de bailarina clássica ainda era forte em mim porque se você está em cena fazendo um cisne, uma princesa ou uma fada, pode cair um lustre do teatro, mas você segue e finge que nada está acontecendo. Levei anos para entender como me apropriar de um personagem a ponto de estar em cena de forma natural e relaxada.
Foi um período muito rico, de muito aprendizado, creio que o início de uma viagem que nunca mais acabaria da forma para o subjetivo que é a dança. Estar em cena começou a tornar-se algo muito especial. Eu adorava me envolver com todas as etapas dos espetáculos, a criação enquanto estávamos em montagem era um momento especial, onde se testava e produzia muito material que ao final era 80% descartado para resultar em uma obra completa. Do início deste processo até o palco, trabalhávamos em encontros diários de várias horas e tudo podia acontecer. Creio que esta é a gênesis de toda Arte e aceitar isto é uma libertação.
Participei de várias obras com a Cia Terpsí, espetáculos lindos e que poderiam ser apresentados em qualquer palco no mundo. Durante o tempo que estive trabalhando na cia. surgiu uma oportunidade inesperada, uma nova possibilidade de aprendizado e crescimento, uma nova viagem que iria ser determinante em minha formação.
Sim, porque a formação de um artista não acaba nunca e o que pode ser mais enriquecedor do que conhecer novas culturas, pessoas, técnicas, novas formas de ver o mundo?