Mark,

Nestes dias frios que têm feito por aqui, dançar ao ar livre seria impossível porque simplesmente para andar pelas ruas se necessita uma certa dose de coragem. Mas ainda sob este clima invernal, Porto Alegre segue com sua característica maravilhosa para andarilhos – o centro em uma ponta da cidade. Uma pessoa disposta e, neste momento bem agasalhada, pode sair de bairros como Cidade Baixa, Bom Fim, Independência, Floresta e ainda outros; cruzar o centro e chegar ao rio Guaíba, caminhando.

Fazendo este trajeto dia destes, passei pelo viaduto da Avenida Loureiro da Silva, chamado viaduto Imperatriz Leopoldina e tive uma grata surpresa. Estava tomando forma a idéia de uma amiga, conhecida artista da cidade – Zoé Degani. Ela concebeu seu trabalho para os 4 pilares centrais do viaduto e no dia em que vi, era ela mesma, equilibrando-se em um andaime, com a mão literalmente na massa, colocando “pedrinha por pedrinha“. Aliás, são pedras de cerâmica em vários lindos tons de azul!

O nome da obra: Céu.

Segundo as palavras da própria artista, em entrevista para um jornal local:

“O local destinado à obra é lugar de tráfego intenso, uma das avenidas que tomamos para deixar Porto Alegre, fica à esquina do Parque da Redenção e é moradia de tantas pessoas à noite, um cenário hostil às vezes, e geralmente de grande barulho e confusão. Diante desta violência visual, sonora e muitas vezes assassina, há necessidade de respirar fundo, de ser uma alternativa à reflexão e paz, mesmo que por um segundo, no caminho dos que passarem sob meu Céu. Que seja realmente o vazio que o céu proporciona e uma referência do belo na vida das pessoas. Simples. Espero sinceramente que eu consiga com meu trabalho fazer que esta motivação torne-se real, que as pessoas se sintam confortadas.”

Para além da própria beleza da obra, Zoé Degani é uma realizadora da cidade. Espera desde 2002, quando ganhou um concurso nacional, para apresentar seu Céu. A obra, que será inaugurada no final de agosto, nos lembra que a cidade pode sempre ser mais bela e indubitavelmente mais humana com um “simples” gesto.

E qual cidadão não se sentiria reconfortado ao ver os artistas de sua cidade empenhados em torná-la um lugar privilegiado?  Um lugar único sob o vasto céu?

Querido Mark, você mesmo poderá estar perto deste Céu em breve.

Abraço,

Tânia

∗ fotografia: Evandro Soldatelli