Meu trabalho com Mark
Trabalhei com a Porto Alegre Cia de Dança em seu primeiro projeto. Isso foi em 2008, na montagem da obra “Olhos fechados no sol” de Mark Sieczkarek. Para além da experiência com o grupo, o que mais carrego comigo até hoje é o processo, o trabalho com o Mark. Lembro que, ao deixar a companhia, quando voltei para a cena dançando um de meus trabalhos, pude ‘ver os meus braços’. Então, comecei a pensar no quão educativo havia sido aquele processo de montagem coreográfica – e, generalizando, no quão educativo é um processo de montagem coreográfica. Pensei também que os bailarinos que viriam a trabalhar sob a orientação da Tânia poderiam ter um lugar de experiência; de refinamento do movimento; de expansão de repertório corporal e, sim, do exercício que é conviver e atuar em um grupo.
Anos depois, Carolina, uma de minhas filhas veio a fazer parte do elenco; percebi o seu amadurecimento artístico; o peso do seu movimento em cena. Mais uma vez era uma obra do Mark Sieczkarek, “Eu estive aqui”. Tive a mesma sensação, qual seja, do processo de formação implicado na remontagem coreográfica. De como “dançar um repertório” requer, sim, a invenção de um corpo – e isso é tarefa do coreógrafo. Na ausência desse, do diretor / repositor; sim, mas, também (ou, antes de tudo) é o próprio bailarino que se dispõe a estar ali ‘ser daquela forma’, dialogando com as demandas da obra. Carolina foi embora para Essen na Alemanha cursar a Folkwang, em 2014. Nesse mesmo ano, Gabriela, minha outra filha, iniciou como parte do elenco da companhia, na obra “Eu estive aqui”. É interessante – e curioso – ver passar essas danças pelos corpos dançantes aqui de casa.
Agora irei assistir novamente a “Eu estive aqui”, com a Gabriela em cena, na próxima temporada, 02 e 03 de abril de 2016, no Theatro São Pedro. Já vi tantas vezes que já sei dançar! Mas, sempre me surpreendo: coreografia bonita, inteligente; figurinos, cenários e música que fazem parte da poética do trabalho, tão bem composto. Esses elementos todos, pensados pelo coreógrafo e materializados pelo grupo. Há de se olhar neste momento para os esforços de todos: da diretora artística que é exímia bailarina e está em cena; do elenco de bailarinos; dos bailarinos que auxiliam na produção. Enfim, produzir dança de maneira independente no Brasil nunca foi tarefa fácil, mas, também, sempre foi possível. Trabalho? Sim, muito.
Mas, é isso. O que espero é que este modelo de companhia possa prosperar, uma vez que pode gerar mercado de trabalho aos trabalhadores da dança. Penso nisso num sentimento de pertencimento a essa classe e dos anos que venho ‘peleando’ (como se diz aqui no RS), em vários lugares do Estado para implementar a ideia da dança como profissão e trabalho. Na minha lógica – e também como professora de Produção Cênica no Curso de Dança da UFRGS -, o que considero importante é a diversidade de modelos de funcionamento da dança na sociedade: de escolas livres a academias de dança; de companhias subsidiadas pelo poder público a companhias independentes; de artistas independentes que dançam, produzem e vendem suas produções aos que se reúnem em coletivos, para viabilizar os trabalhos e dividir custos e [pequenos] lucros. Nessa lógica, o que desejo é VIDA LONGA a toda essa gente! Para a Porto Alegre Cia de Dança, que sejam os primeiros 8 anos e que venham os próximos!
Luciana Paludo