POA CIA de DançaPOA CIA de Dança

AS ÚNICAS COISAS ETERNAS SÃO AS NUVENS é um espetáculo de dança que cultiva o poder sintético das imagens, metáforas, associações insólitas e outros tantos recursos da poesia de uma das mais extraordinárias figuras no campo da expressão literária nacional, o poeta Mario Quintana.

No palco encontram-se seres míticos, os anjos de Quintana, que ao som da voz de seu criador e de músicas que o inspiraram transitam por situações cotidianas. Vivenciam opostos, tão presentes no Butoh, como a beleza e a decrepitude, a simplicidade e a complexidade, o cômico e o trágico; e desta forma lúdica, através da poesia, transportam o expectador para um mundo mágico, muito além das dualidades.

Um espetáculo delicado e esteticamente marcante, que incorpora a dança BUTOH como forma de dar vida aos personagens extraídos do universo das obras do poeta cuja genialidade lírica é expressa de forma simples e acessível.

Na visão oriental expressa na dança Butoh o intérprete não dança somente para si, mas para reviver algo muito maior. O convite é para que o público seja envolvido e mergulhe também nesta aventura.

Sinopse

O espetáculo AS ÚNICAS COISAS ETERNAS SÃO AS NUVENS propõe uma viagem coreográfica pela obra do poeta Mario Quintana, através da dança Butoh. Já como título traz esta epígrafe do poeta que se refere ao tempo, remete ao ciclo da água, às mudanças que acontecem acompanhando a passagem das nuvens, eternas a cada instante.

Conta o coreógrafo João Butoh: “Desde criança recorto poemas e versos de Mario Quintana de jornais e revistas que eu encontro. Esses recortes vindos do universo da obra do poeta possibilitam outros recortes os quais tomo emprestado para a minha dança, para o meu universo tão inspirado nesses pequenos detalhes e fragmentos que colecionei por toda a minha vida”. Desta relação do coreógrafo com a obra do poeta que escreveu sobre as coisas simples da vida e do encontro com a Porto Alegre Cia de Dança, nasceu AS ÚNICAS COISAS ETERNAS SÃO AS NUVENS. Um espetáculo capturado nas imagens emocionais da poesia. Um mergulho na origem da expressão.

Em qual recanto do coração arrebatado pelo canto poético surge a intenção da dança? Quando os versos do poeta entram em ressonância com a alma, emerge um movimento sutil,  profundo e que alcança o mundo exterior pela mobilidade ou até mesmo pela imobilidade dos gestos corporais. Uma expressão tão além das ideias, impenetráveis neste reino. Uma explosão sensorial. AS ÚNICAS COISAS ETERNAS SÃO AS NUVENS dança a poesia e os bailarinos se entregam à inocência e simplicidade deste encontro, guiados pelas mãos do coreógrafo João Butoh e pela própria voz do Mestre Mario Quintana entoando seus poemas.

Cenário

Em um velho sótão se encontram o criador e suas criações. Neste lugar, perdido no tempo, o poeta Quintana conversa com seus anjos. Juntos trazem à cena aqueles elementos tão recorrentes em sua obra: o baú, livros, cataventos, lampiões, sapatos, bonecas, pássaros. O visual do espetáculo, cheio de surpresas,  produz a sensação de se estar folheando um livro vivo de ilustrações em terceira dimensão, do universo da obra de Quintana.

O TEMPO E O VENTO       *para Érico Veríssimo

Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo
Mas havia um arroio correndo entre os dedos
buliçosos dos pés
E pássaros pousados nas pautas dos fios do telégrafo
E vento!
O vento que vinha desde o princípio do mundo
Estava brincando com teus cabelos

(Mario Quintana do livro Apontamentos de História Sobrenatural)

Figurino

Os anjos do poeta Mario Quintana, como camaleões, vão se transformando durante o espetáculo. Seguem os humores e sentimentos de seu Mestre, trocando vestimentas conforme surgem os novos sonhos, as memórias e os desejos do poeta. A maquiagem branca, típica da dança butoh, completa estéticamente  o figurino que apresenta desde floridos vestidos pintados a mão até kimonos estilizados que remetem a cultura oriental.

 CANÇÃO DE BARCO E DE OLVIDO – trecho        *para Augusto Meyer

Ai esquinas esquecidas…
Ai lampiões de fins de linha…
Quem me abana das antigas
Janelas de guilhotina?
Que eu vou passando e passando,
Como em busca de outros ares…
Sempre de barco passando,
Cantando os meus quintanares…
No mesmo instante olvidando
Tudo o de que te lembrares.

(Mario Quintana do livro Canções)

Música

A trilha do espetáculo traz desde músicas eruditas até músicas do folclore brasileiro e ainda músicas da época de Quintana. O ponto alto da trilha são poemas que o poeta declama com sua voz e que regem os movimentos dos bailarinos. Uma trilha feita para impactar, emocionar, para chegar ao coração de cada espectador e fazer com que cada um acesse a poesia presente em sua própria existência.

Como tão bem colocou Elena Quintana: “Acho que a obra do Mario Quintana é extremamente rítmica e musical, por isso a ideia não é nenhuma loucura, é mais um desafio. Por si só, a poesia já tem ritmo, já tem sua própria musicalidade. E a proposta da Cia de Dança é justamente utilizar esse ponto, trabalhar a poesia com este foco.”

INSTRUMENTO

Impossível fazer um poema neste momento.

Não, minha filha, eu não sou a música sou o instrumento.

Sou, talvez, dessas máscaras ocas num arruinado monumento:

empresto palavras loucas à voz dispersa do vento…

(Mario Quintana do livro Apontamentos de História Sobrenatural)

Iluminação

Colaborando para criar um ambiente mágico de melodias e movimento, temos a iluminação de Maurício Moura. O iluminador também se deixa guiar pelo Mestre Quintana, mergulha em suas palavras e oferece ao espectador todas as nuances possíveis para que as entrelinhas da  poesia do poeta também sejam reveladas.

 

 

XVI – trecho    *para Nilo Milano

 … Por que é que esses Arcanjos neurastênicos

Só usam névoa em seus efeitos cênicos?

Nenhum azul para te distraíres…

Ah, se eu pudesse, tardezinha pobre,

Eu pintava trezentos arco-íris

Nesse tristonho céu que nos encobre!…

(Mario Quintana do livro A Rua dos Cataventos)

Depoimentos

Outros Espetáculos